terça-feira, 29 de setembro de 2020

Brisa de Primavera

Quando paro para refletir sobre como a cultura japonesa percebe o espaço-tempo, o aqui=agora, percebo que tenho uma forma de percebê-lo também. 

Percebo que o que eu aprendi - inconscientemente, porém produto de uma hegemonia de pensamentos e discursos - é diferente deles.

Que o significado dado por eles é incrível, é algo que faz sentido pra mim, que consigo sentir/imaginar e coloca em perspectiva o como eu sinto a realidade. 

O pacto com as significações é tão subliminar...

E é na diferenciação dos lugares, no colocar-se no lugar do outro, que percebo minhas próprias crenças. A autoconsciência caminha junto da consciência social, da consciência inter-subjetiva, daquilo que há além de mim.

Como optei por algo se aquele algo era o único conhecido? O único explicado, o "globalmente" aceito?

Como perceber as hegemonias de pensamento se não aparecem nas significações cotidianas algo diferente? Algo que me mova?

Ou será que meus olhos de antes não conseguiam notar essa diferença, e ela sempre esteve ali, como entrelinhas para uma reinterpretação da realidade?

A linguagem...

Não consigo entender fatias da cebola que estão distantes de mim. O hermetismo. Não consigo visulumbrar as entrelinhas porque não há nitidez suficiente para entende-las ainda, ou, mesmo que as veja, não consigo traduzi-las.

É como uma pulga atrás da orelha. Tenho uma sensação... Como um leve toque de uma brisa de primavera. Sei que algo está por vir, mas não sei dizer como sei, por que sei. Só sinto. Já passei por isso antes, reconheço a sensação, e, ainda assim, uma ansiedade me consome por querer já chegar onde ainda não estou pronta para ir. E tem isso também, sei (e só sei) que preciso me preparar, me instrumentalizar, me fortalecer, porque o que preciso conhecer está além do que consigo entender agora.

Sinto que há algo para ser desvelado, entrelinhas a serem interpretadas, sentidos ocultos que surgem no entrelaçar das diversas informações que entro em contato. Como as ondas bineurais: não é algo em si, é algo construído no conjunto, na harmonia e sublimação de coisas distintas que criam algo novo (ou que, pelo menos, me possibilitam vê-lo).

 

Pensamentos concomitantes, coincidências, séries, Musubi, romances, Rubem Alves e Ulisses... É gostoso sentir esse fluxo.

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