terça-feira, 29 de agosto de 2017

Uma entrevista com o Beethoven

Dizem que agosto nunca acaba. Pois bem, aqui está a terceira postagem do blog nesse mês, algo totalmente inédito - na proporção quase igual do quanto é relevante.

Eu disse:
"por que eu quero tanto que haja reciprocidade
... quero tanto não estar sozinha,
mas estou"

E me lembrei de uma música que um amigo cantava. Especificamente, o trecho "que saudade", de Augusta, Angélica e Consolação, do Tom Zé. Sinto saudade dele, sinto saudade daquele momento que vivi com ele. Sinto saudade daquele tempo, saudade de tempos anteriores àquele. Momentos em que estou no próprio momento.

E vem ansiedade, e vem saudade. E o momento que eu quero, cadê? Vou reescrever um texto sobre o vazio, só ainda não. Falta algo ainda. Então vou escrever sobre um pensamento solitário (meu único caminho, até então, para aproveitar meu momento sem alguém aqui - do meu lado).

Hahahahah quantas frases desconexas! Ah, vida.

Estava eu sozinha num sábado à noite, após um dia igualmente solitário. Consegui aproveitar todos os momentos próprios - estava tranquila, estava disposta. Após ver "Capitão Fantástico" e ter insights sobre traumas de infância, achei que seria ótimo ouvir um som bacana e ficar de boas. O som foi a nona sinfonia de Beethoven, e o de boas foi me alongar à luz de velas.

E é incrível como, apesar de todos os aspectos do momento, a cabeça nunca é refúgio do silêncio, não é mesmo? Imaginei o Beethoven sem ouvir uma nota daqueles violinos escreveu aquela sinfonia. Como? COMO? Sequer tenho conseguido transpassar pelos meus dedos as melodias que permeiam meus pensamentos... E ele, ah! Ele fez aquelas pausas e sons magníficos sem ouvir as ondas mecânicas que eles geravam?

Quem, além dele próprio, poderia responder essas perguntas da forma mais acurada possível? Em termos objetivos e subjetivos (principalmente)?

Então, claro, veio a vontade de poder entrevistá-lo. Mais que isso. Trocar uma ideia com ele. Poder, por segundos, me colocar mais próxima da percepção que ele tinha da vida: pra então, talvez, buscar sentidos aguçados daquilo que é a reprodução que ele construiu.

Mas.. Minha interação com ele não mudaria, talvez, a própria percepção dele a respeito daquilo que ele podia ou não traduzir em palavras? As perguntas que eu gostaria de fazer, de cunho totalmente psicológico e denso, não gerariam um movimento de tentativa de tradução que mudaria a própria concepção dele, devido à restrição de termos da língua e do tempo para se expressar?

Então veio o fluxo. Aquele fluxo imparável de conexão entre informações distintas que chegaram a pontos lógicos gostosíssimos: porém que necessitam de longos parágrafos para o outro (você mesmo) entender. Ah. A questão é que gosto de tentar explicar os fluxos que tenho. Esse foi interessante por que dialogou com as conversas internas que tive após ver aquele filme que citei antes. Lembrei de comportamentos que tenho atualmente em função de eventos que já tinha desconsiderado. Lembrei de fatos importantes para a análise de mim mesma: para a compreensão de padrões caóticos da minha personalidade. Porém expressa-los seria d-e-m-a-s-i-a-d-o extenso então guardei para mim.

A relação entre os assuntos é: Como se traduz o inconsciente? Se ao realizar qualquer ponte para o externo já se ressignifica o próprio ser em si? Seria a comunicação, ao mesmo tempo que uma possibilidade, uma impossibilidade de nos entendermos? (Visto que nos transforma a cada tentativa dela molda o sentimento abstrato/subjetivo à um conjunto concreto/objetivo de símbolos?)

Quando eu perguntasse para o Beethoven "Quem é você?", a resposta dele mudaria quem ele é? A mudança de quem ele é, mudaria o som que ele fez? Somos aquilo que conseguimos expressar? Ou nos tornamos aquilo que há possibilidade de ser expresso?


sábado, 12 de agosto de 2017

Vazio

Todos escrevendo sobre algum momento cotidiano

Eu não quero escrever o que está acontecendo, quero escrever o que sinto (o que sou?). Não me conheço - ou, talvez, me conheça - tanto que não consigo expor em palavras

Vazio

* Na última quarta tive aula de arte e loucura. O Ney fez uma atividade de termos que escrever continuamente: sem pontos, sem parágrafos; apenas colocando palavras que viessem à mente após olharmos grupos de imagens/vídeos. Não conseguia saber o que era pra escrever ali. Na minha cabeça? Bom, na minha cabeça tinha a possibilidade estudar piano que não acontecia por eu estar ali; a aula da noite que não queria ir; os trabalhos que tinha que entregar no dia seguinte; estava, enfim, o conjunto das minhas ansiedades.

Mas eu dialogo com elas. Sempre. Sei o que me agonia. Seja passado ou presente. A diferença é que a ânsia pelo que virá só se resolve quando vem. Será que era isso que eu tinha que escrever?

Fiquei pensando nisso quando o pessoal leu as suas anotações. Alguns fizeram frases clichês existenciais, a maioria colocou o que estava acontecendo. É isso que passa pelo infinito do imaginário que eles construíram em toda a vida? Não sei. Sei que percebi minha agonia ao escrever. Aquela velha, aquela da cobra. O vazio me consome. E o vazio não vem só quando eu chamo, as vezes é involuntário. As vezes é bom, na maior parte das vezes é angustiante. Veio agora, enquanto assitia 70's show. Veio o que eu gostaria de falar sobre o que escrevi, lá na aula. É o trecho no início do texto. Hoje teve alguns breves momentos que o conceito de "atos falhos" teve sentido. Conscientemente perguntei "será?", e veio novamente. Então parei, "não, pera!" e voltou. E fluiu. E foi gostoso escrever. Ah!

Não está tal qual pensei. Nunca está. Mas ficou próximo. O sentido ainda é dúbio. Alguns vão achar que entenderam, e que bacana! Porém só saberem se o fizeram de fato, se conseguirem retribuir minhas conclusões. Será que alguém faria isso?

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Perdida

Não é falta de criatividade. Nem falta de interesse. É falta. É falta de alguma coisa que eu não sei o que é. Escrever era, pra mim, cessar o choro - transpor o êxtase. Nem choro, nem êxtase tenho tido. (Seriam esses os motivos de minha desenvoltura?)

Da última vez que escrevi, lembro que foram três linhas de uma folha: "não escrevo por ter medo de não ser bom o suficiente". E, antes disso, lembro de me comprometer em tentar escrever mais, já que estava diminuindo a frequência da minha escrita.

O que têm dado certo é o piano. Meus dedos fluem quase como o sentimento, quando não são as origens de outros. Mas as palavras.. Ah! As palavras. Elas me limitam. Elas me pedem pra reduzir esse caos que mora em mim. E no desenvolver das frases começa a noia: por que não consigo transpor em palavras isso tudo que estou sentindo? E. é. a. mesma. noia. de. sempre. Por isso tenho deixado de escrever - não supri a velocidade do meu raciocínio. Não supri a ebulição de ser que tenho experimentado ultimamente.

O que me resta?

Tocar, talvez. As linhas das ilustrações também têm me levado sutilmente por caminhos inesperados. Ah! Eu sinto o êxtase e não consigo EXPRIMIR! Como pode a agonia da existência me consumir cotidianamente dessa forma?