Lembro que quando não conseguia escrever me expressava com aquilo que escutava. Ferrugem, Debussy e Yusef Lateef tem sido o que mais tenho escutado nas últimas semanas - e tenho escutado pouquíssimo (o que será que isso diz?)
Tem um prazer que é super inerente ao cotidiano "produtivo": meus melhores momentos de contemplação das músicas (que me propiciavam essa expressão toda que a verbalização não dava conta) aconteceram em períodos corridos, cheio de compromissos, cheio de missões diárias cumpridas. Podia ser cinco minutos, podia ser meia hora... A sensação de "presença" me inundava toda, me fazia entrar num lapso temporal de não pensar, não problematizar, não ansiar pelas coisas que estavam por vir. Só estava ali, contemplando.
Pela lógica, se não tenho tido esse pacote de "missões diárias cumpridas", logo, nada de transcendência contemplativa. Mas será que tinha um condicionante só pra esse fim?
Gosto de mencionar a paixão pela primavera.
Outro dia numa parada de ônibus passou por mim uma borboleta branca, enorme. Me deu esse lapso contemplativo. Foi gostoso. Ontem também, aqui na praia, passou uma borboleta, branca, mas pequena, que me remeteu ao lapso - e aí gerou outro lapso, e os lapsos vão se conectando...
A primavera já passou. Ainda assim, sinto a paixão...
E talvez esse seja um ingrediente tão importante quanto as missões diárias cumpridas. Esse ânimo tão específico, que dá tanta vida, tanta emoção! Só que junto da emoção acabam chegando os desequilíbrios também. É aquilo, seja tempestade, seja calmaria, coisas maravilhosas e desafiantes acabam batendo. Muita coisa tá batendo em mim agora. Não que sempre tivessem várias coisas, só que a sensação dos caminhos se bifurcando tá chegando, tá se acomodando. Borboletas...
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