terça-feira, 14 de maio de 2019

Barquinho

Nas idas e vindas desse oceano, a calmaria me deixa atordoada.

Um tanto quanto hedonista, acabo sentindo prazeres cotidianos que me preenchem. Preenchem meu tempo. Atenuam os efeitos dos demônios internos (embora eles continuem ali... Uma anestesia às avessas, talvez seja).

Será que está por vir uma tempestade? Ou será que ela já urge, e eu me nego a enxergar?

Me delicio com as tramas acadêmicas sobre o sentido, a essência. As possibilidades dos signos. Os símbolos todos que criamos e o propósito disso tudo... Sem a ansiedade de chegar a algum lugar, com a vontade de internalizar tanto quanto projetar ao longe essas reflexões ontológicas todas.

Ainda há aqueles momentos de recaída. Só que agora tenho a companhia dele. Ele entra no barco junto comigo, traz tudo o que é lindo e determinado no mais fundo do ser, e, também, tudo o que é denso e indigesto... Ainda assim, cada movimento tem trazido mais ânimo pra mim. Vejo possibilidades, vejo uma realidade que quero viver: que quero compartilhar. Sinto vontade de estar viva. Me sinto viva.

Sendo a existência o constante navegar sobre a água, vislumbrar no horizonte as mudanças que estão por vir é o cerne de não afogar-se por aí. (Ao menos foi isso que contei para um amigo hoje que não via há muito tempo, me convenci no processo de explicação).

Hoje parece um fim de ciclo.

Como será o próximo?

Palavras de ordem tumultuam na minha cabeça - o que é irônico porque grande parte delas se refere ao ato de não pensar, de focar e viver o momento. Palavras de ordem surgem nas ruas também, no inventário social do momento. Essa comunicação tá se transformando. Aquilo que refleti depois de querer entrevistar o Beethoven entra aqui como minha tentativa de vislumbrar esse horizonte: está mudando a linguagem, está mudando a possibilidade de expressar quem somos, de entender quem somos - de transformar a nós mesmos.

Como estou agora? O que quero manter, o que quero mudar?

Hum.

Calmaria. Sinto uma calmaria. Como posso, no meio de tanto caos? Seria o olho do furacão?

Agora que não estou mais sozinha no barquinho minha vontade é de agarrar todos os raciocínios e projetar as melhores ações possíveis. Aquilo de usar a cabeça pra guiar o sentimento. Tolice! Tanta tolice!

Em termos astrológicos, meu sol em peixes na casa 12 entra em choque com o netuno em capricórnio na casa 11 (e netuno está em peixes...), enquanto no céu o sol e o mercúrio em touro exaltam tudo de hedonista e ~quase~ estável que há em mim. Que delírio... Se o passado me ouvisse, que comédia!

Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar...