Era uma vez uma flor.
Seu nome era Agnes, e sua vida começou quando era apenas uma semente. Veja, há diversas oportunidades para uma semente. Dentre tudo no mundo que poderia ter, Agnes conheceu a terra macia de um pequeno vaso. Envolta em umidade e escuridão, seu primeiro sopro de vida foi buscar a luz - e isso foi uma tarefa árdua.
De tanta força que fez Agnes ficou alta. Ela se sentia muito descompensada, não conseguia parar em pé. Precisou de uma muleta.
Aquela muleta a acompanhou por muito tempo, talvez (provavelmente) mais do que o necessário. Seus pais eram superprotetores, e era a primeira vez que eles tinham uma Agnes. Como pais de primeira viagem (não tão bem informados) demoraram para entender que ela já era grandinha e precisava de um vaso maior. Até que o novo vaso chegou.
Às vezes a vida faz disso: mexe tanto com a gente que murchamos, perdemos o brilho, parecemos tão frágeis que há quem suponha que não vamos conseguir. Bastava uma boa noite de sono (toda aquela luz podia ser muito estressante...) ou um bom fole d'água e Agnes se reerguia, sempre esbelta e cheirosa.
Não foi fácil mudar de vaso. O conforto de antes mantinha tudo estável, não gerando preocupações. Mas foi o caos da mudança que a fez crescer.
Os dias foram passando... E seus pais foram ficando mais ausentes. Esqueciam de pô-la no sol, ou esqueciam da água... E sem esse amor diário Agnes estagnou. Talvez quisesse florir e não conseguia, não tinha como saber.
Agnes, mesmo assim, resistia. Se reerguia a cada dia, cheia de sede de viver.
Mas Agnes não chegou a florir.
Jamais saberemos o que seria dela. Sabemos apenas que sua existência foi um ato de resistência, regado à amor e rebeldia.
Agnes virou sacrifício. Seus pais conversaram e decidiram que era a melhor opção.
É que nem todas as plantas tem o direito de viver nesse mundo - e Agnes era uma delas. Não era culpa dos pais a discriminação, mas eles seriam culpados caso Agnes fosse descoberta.
A semente já vem ao mundo com o propósito de ser semeada, e assim foi Agnes, quase sem querer.
E por que será do motivo que algumas plantas possam viver e outras não?
A semeadura, na noite escura, é rebeldia esculpida no concreto moderno. Força e resistência permeiam a jornada da planta, que renasce e se adapta a cada mudança de habitat.
E quem não resiste... Perece.
Não pereçamos, ainda.
Agnes encontrou seu propósito no sacrifício.
Em que encontraremos o nosso propósito?
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